Um D. João português

A partir da Comédia nova intitulada
o convidado de pedra ou
D. João Tonorio, o dissoluto
De Molière (tradução portuguesa de 1785)
Inclui O mendigo ou O cão morto, de Bertolt Brecht
(trad. José Maria Vieira Mendes)
Um espectáculo de André Pardal, Bernardo Souto, Dinis Gomes, Diogo Dória, Duarte Guimarães, Guilherme Gomes, Joana Manaças, João Reixa, Leonardo Garibaldi, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Nídia Roque, Rita Cabaço, Rita Durão, Sílvio Vieira, Sofia Marques e da Companhia Mascarenhas-Martins
Molière não foi o único autor a dedicar-se ao mito de D. João. Ao longo dos séculos, a figura do libertino inspirou obras de Tirso de Molina, Lord Byron e, talvez a mais famosa de todas, a ópera Don Giovanni, de Mozart. Luis Miguel Cintra parte de uma tradução anónima de cordel portuguesa, do séc. XVIII, em que o nome do dramaturgo francês é omisso, e evoca um conjunto de referências culturais e artísticas de vários tempos para construir um espectáculo em que D. João é, mais do que europeu, verdadeiramente português. Construído ao longo de 2017 em quatro cidades, Montijo, Setúbal, Viseu e Guimarães, o espectáculo acompanha o percurso em fuga de D. João e do seu fiel criado Esganarelo, como se de um road movie se tratasse. A vida vai-se revelando no contacto de ambos com as mais diversas realidades, da mais densa reflexão filosófica à entrega aos prazeres mais simples. Constante, porém, é a busca pela total liberdade por parte do protagonista, que tenta escapar a tudo aquilo que possa impedi-lo de viver como bem lhe apetece. Existe, ainda assim, um único limite que talvez não lhe seja possível transpor: a morte.
Na estrada (da vida)
D. João matou o pai de uma das suas amantes. Encontramo-lo em fuga com o seu criado Esganarelo. Outra mulher que entretanto abandonou – à qual está ligado pelo "sagrado vínculo de um matrimónio" – consegue descobri-lo e vem chamá-lo à responsabilidade. D. João, com a desenvoltura que se lhe descobrirá, troça da situação e D. Elvira promete vingar-se.
A escolha para o Montijo da sala do Pólo da Junta de Freguesia do Afonsoeiro estabelece um contraponto cenográfico que dará um carácter onírico ao espectáculo, o que contribuirá para tornar mais próximo do espectador um diálogo profundamente filosófico em torno do Bem e do Mal e da responsabilidade do eu perante os outros.
O mar (e de rosas)
D. João e Esganarelo estão já envolvidos noutra aventura junto ao mar. O protagonista seduz duas raparigas populares, duas pescadeiras, divertindo-se a gerar ciúmes entre as duas e o namorado de uma delas. Quer D. João, quer Esganarelo, surgem como marginais da sociedade, quase como num road movie. A pretensa riqueza correspondente à fama de nobreza de D. João é pura aparência. Não é junto dos pobres, nem junto dos fidalgos, que encontra o seu lugar na vida.
As árvores (dos desgostos)
Depois de passar pelo Montijo e por Setúbal, Um D. João Português chega ao Teatro Viriato, em Viseu. No decorrer do anterior segmento, D. João recebe uma mensagem do estalajadeiro onde pernoitou com o seu criado Esganarelo, que o avisa que estão a ser seguidos por doze homens. Encontramo-los novamente em fuga. “Escute! Não ouve o tinir de espadas?”, pergunta o prudente criado. “Ouço belamente, e é no mesmo caminho que nós devemos seguir”, diz D. João, revelando o tipo de comportamento que os tem feito andar de lugar em lugar, como num road movie. Depois de um confronto com os irmãos de D. Elvira, esposa que abandonou, passam por um cemitério onde encontram a estátua funerária do Comendador que D. João “há seis meses mandou para a outra vida”. Contra todos os avisos do seu criado, convida a estátua para jantar.
A escuridão ao fim da estrada
Montijo, Setúbal, Viseu, Guimarães. Depois de três residências artísticas, Um D. João Português chegou à cidade que acabaria por acolher a estreia do espectáculo na sua versão integral, marcada para Janeiro de 2018 no Centro Cultural Vila Flor. Antes, porém, seria trabalhado em residência artística o quinto e derradeiro acto da peça, o qual cruzava a tradução anónima de cordel com o texto original de Molière. Na versão portuguesa, era o homem quem acabava por ser vencido pela mulher que generosamente o perdoava e forçava o casamento. Na versão em causa, era a doce argumentação de Elvira que torturava a consciência de D. João e desembocava numa cena de fantasmagoria com espectros e outros acontecimentos espectaculares, transformando o casamento da versão portuguesa numa mascarada de Halloween.

Ficha artística e técnica [Um D. João Português]
Interpretação
André Reis, Bernardo Souto, Dinis Gomes, Diogo Dória, Duarte Guimarães, Guilherme Gomes, Joana Manaças, João Jacinto, João Reixa, Leonardo Garibaldi, Levi Martins, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Maria Mascarenhas, Nídia Roque, Rita Durão, Sílvio Vieira e Sofia Marques
Dramaturgia e encenação
Luis Miguel Cintra
Direcção de produção
Levi Martins
Assistência de produção e de encenação
Maria Mascarenhas
Luz e som
Rui Seabra
Design gráfico e ilustração
André Reis
Fotografia
Luís Santos
Ficha artística e técnica [Na estrada (da vida)]
D. João Tonorio homem dissoluto DINIS GOMES
Esganarelo seu criado DUARTE GUIMARÃES
D.ª Elvira esposa de D. João RITA DURÃO
Gusmão criado de Elvira LUÍS LIMA BARRETO
Instrutora de aeróbica SOFIA MARQUES
Ginasista Clemência NÍDIA ROQUE
Ginasista Fílis JOANA MANAÇAS
Voz do Pensador LUIS MIGUEL CINTRA
Actores JOÃO JACINTO e MARIA MASCARENHAS
Vigilante LEVI MARTINS
Velho ANDRÉ REIS
Pastores JOÃO REIXA e SÍLVIO VIEIRA
Dramaturgia e encenação
Luis Miguel Cintra
Direcção de produção e assistência de encenação
Levi Martins
Assistência de produção
Maria Mascarenhas
Operação de luz e som
Inês Monteiro Pires
Design gráfico e ilustração
André Reis
Fotografia
Beatriz Sequeira, Eduardo Martins (CMM)
Apoio
Câmara Municipal de Montijo, Junta de Freguesia da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro, Universidade de Lisboa
Ficha artística e técnica [O mar (e de rosas)]
D. João Tonorio homem dissoluto DINIS GOMES
Esganarelo seu criado DUARTE GUIMARÃES
Pedro GUILHERME GOMES
Carlota RITA CABAÇO
Maturina SOFIA MARQUES
Lucas LEONARDO GARIBALDI
Gémea Branca NÍDIA ROQUE
Imperador ANDRÉ PARDAL
Mendigo JOÃO REIXA
Uma personagem na rua JOÃO JACINTO
Dramaturgia e encenação
Luis Miguel Cintra
Direcção de produção e assistência de encenação
Levi Martins
Assistência de produção e de encenação
Maria Mascarenhas
Produção
Ana Bichinho (Câmara Municipal de Setúbal)
Montagem de luz e som
Rui Seabra
Design gráfico e ilustração
André Reis
Fotografia
Câmara Municipal de Setúbal
Apoios
Câmara Municipal de Setúbal, Porto de Setúbal – APSS, Universidade de Lisboa, Centro de Estudos de Teatro
Ficha artística e técnica [As árvores (dos desgostos)]
D. João Tonorio homem dissoluto DINIS GOMES
Esganarelo seu criado DUARTE GUIMARÃES
Irmãos de Elvira:
D. Carlos BERNARDO SOUTO
D. Afonso SÍLVIO VIEIRA
Excertos de D. Quixote NÍDIA ROQUE e SOFIA MARQUES
D. Luiz Pai de D. João LUIS MIGUEL CINTRA
Domingos mercante JOÃO REIXA
Figuras no jantar BERNARDO SOUTO, NÍDIA ROQUE e SÍLVIO VIEIRA
Ajudante de cena LEONARDO GARIBALDI
Dramaturgia e encenação
Luis Miguel Cintra
Direcção de produção e assistência de encenação
Levi Martins
Assistência de produção e de encenação
Maria Mascarenhas
Apoio à montagem de luz e som
Rui Seabra
Design gráfico e ilustração
André Reis
Apoio
Universidade de Lisboa
Ficha artística e técnica [A escuridão ao fim da estrada)
D. João Tonorio homem dissoluto DINIS GOMES
Esganarelo seu criado DUARTE GUIMARÃES
Freiras JOANA MANAÇAS e NÍDIA ROQUE
D. Luiz Pai de D. João LUIS MIGUEL CINTRA
D.ª Elvira esposa de D. João RITA DURÃO
Irmãos de Elvira:
D. Carlos BERNARDO SOUTO
D. Afonso JOÃO REIXA
Comendador DIOGO DÓRIA
Sacristão LEONARDO GARIBALDI
Estátua SOFIA MARQUES
Diabo LUÍS LIMA BARRETO
Uma personagem da rua JOÃO JACINTO
Vigilante LEVI MARTINS
Dramaturgia e encenação
Luis Miguel Cintra
Direcção de produção e assistência de encenação
Levi Martins
Assistência de produção e de encenação
Maria Mascarenhas
Apoio à montagem de luz e som
Rui Seabra
Design gráfico e ilustração
André Reis
Fotografia
Centro Cultural Vila Flor
Apoios
República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes, Fundação GDA, Teatro Nacional S. Carlos, Universidade de Lisboa, Funerária Parreira